quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Wislawa Szymborska

As coisas são as coisas, não haja mundo que desdiga isso. As coisas estão prontas para serem fotografadas por poemas. Ou a arte de um modo geral. Mas não estão prontas como frutos acessíveis e qualquer um vai e colhe. Precisa de mão, braço, desejo específico, prontidão absurdamente nova. E que dificuldade imaginar onde e quando este simples gesto vai sumir num sem-número de oscilações e técnicas de que só a poesia é (in)capaz. Mistério, enfim, ainda que sob a luz racional envolvida em ramas intuitivas.

A poesia traduzida começa em desfalque. Mas a beleza está também nisso, nesta transposição de sentidos – e melhor quando a tradução tem a mão de uma vivência nas duas línguas. Tradutore, contraditore. A pouco conhecida Wislawa Szymborska, poeta polonesa, ganhadora do Nobel, tem a capacidade comunicativa como um dos pilares de sua poesia. São poemas de simplicidade enganosa. Mas operam, mal começamos a ler, aquela mágica, aquele falso degrau quando pensamos pisar e perdemos o equilíbrio. Bom poema faz mal para o equilíbrio, e isso é bom hesitar. Se o sentido não hesita no poema, não deu boa poesia. Em Wislawa, temos inúmero exemplos do deslocamento (seja do clichê, seja da verdade aceita por tantos). Ao mesmo tempo, a coragem de apresentar situações do tipo “E se fosse deste modo, e não daquele?”.

Há muita vantagem na poesia de vias claras, de sossego formal. O poeta se dedica, sem perder-se em malabarismos verbais, a uma forma de reflexão acachapante, apresentando situações ou quadros onde a beleza está nesta maneira de desnudar o que está por um triz na imagem. É como uma equação: “isto é aquilo, mas se você virar mais um pouco, isto é mais ainda aquilo”. É a constante busca de uma verdade, ainda que muitas vezes, seja como tentar entrar na pedra. “Bato à porta da pedra. Sou eu, me deixa entrar. – Não tenho porta – diz a pedra”. Como diz Wislawa, as perguntas ingênuas são as mais urgentes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário